18.10.17

WILSON VIEIRA, UM CIDADÃO DO MUNDO!




Êste talentoso brasileiro é conhecido no mundo tôdo, respeitado por seus desenhos incríveis e textos recheados de personagens inesquecíveis.
Mestre Wilson Vieira, primeiramente eu agradeço por responder estas 5 perguntas contando um pouco da sua vida e carreira para seus inúmeros fãs que acompanham o "Chutinosaco" e o site "Papersera", onde somos citados como um dos blogs que homenageiam as histórias Disney (Portanto, se preferir, pode responder a entrevista em italiano, ok?).



1) Wilson Vieira, nos conte como e quando começou sua carreira como desenhista, quais foram seus ídolos que inspiraram de alguma forma o seu trabalho, e qual a sua primeira história?




R - Ok, caro Luiz, sou quem agradeço suas palavras gentis e responderei em Português, por ser a  minha língua pátria e não esquecê-la jamais. 
Bem, a carreira propriamente dita, só fui realmente exercê-la nos anos 70, lá na Itália. 
Aqui no Brasil em minha juventude, nunca pensei em me tornar anos mais tarde, um Desenhista ou Roteirista profissional.
Quando pequeno observava o meu pai desenhando naquele modo de "técnica quadriculada" ou seja, onde você transfere a imagem a ser redesenhada em outra superfície maior, também quadriculada.
Êle era muito bom nisso! Eu via tudo, e ali comecei a tomar gosto pelo desenho à mão livre.
Enquanto fazia meus estudos regulares, matriculei-me numa Escola de Desenho Artístico e Publicitário, existente na época no bairro onde morava, o Ipiranga (São Paulo).
Ali comecei o que chamam de: "soltar a mão".
Já gostava de gibis e os meus heróis eram o "Cavaleiro Negro" e o "Cavaleiro Fantasma".







Desde pequeno tive um fascínio muito grande pelo tema Western, pois dos 7 aos 14 anos nos anos 50/60 morei numa cidade do interior de São Paulo chamada na época: Alfredo de Castilho (Hoje somente Castilho) que era realmente uma cidadela semelhante ao Velho Oeste, eu ficava observando os vaqueiros encourados, cansados e barbudos que levavam imensas boiadas (Para fora da cidade), cavalgando depois pela rua principal de terra levantando poeira, (Ou barro dependendo da época) desmontando e amarrando seus cavalos suados em hastes rústicas de madeira e entrando em armazéns, para tomarem ou comerem algo - depois saiam, montavam novamente e partiam - tais imagens, expressões e gestuais ficaram impressas em minha memória para sempre (Tanto que muitos anos após, foram e são utilizadas até hoje, em meus roteiros de westerns).







Porém o meu primeiro contato com as HQs, foi quando copiei à mão página por página, um antigo gibi chamado "Rip Kirb"(Alex Raymond) e guardei comigo. 



Quando fui para a Itália, ao me apresentar ao meu futuro editor Gianni Bono quando mostrei o meu trabalho orgulhoso, êle não gostou nada, mas acreditou em mim e passei a treinar muito já no próprio "Estúdio Staff di If", onde me tornaria um Desenhista profissional.




2) "Tarzan", "Diabolik", "Davy Crockett", "Coyote", foram alguns dos personagens que já desenhou. Poderia nos contar como foi sua experiência com êsses clássicos também - e se possivel - nos enviar algumas imagens de páginas de cada um, para postarmos com essa entrevista?













R - Bem, nessa época já era um Desenhista profissional - e sabe, para mim - como para os demais profissionais - desenhar tais personagens, tornou-se algo normal pois desenhávamos muitos, e sôbre qualquer tema, pois se não existissem, simplesmente os criávamos.
O "Staff di If" era realmente uma fábrica de quadrinhos, e composto por excepcionais autores, ainda hoje atuantes no campo gráfico.



3) Você é um artista brasileiro reverenciado no mundo tôdo. Como foi seu trabalho na Sergio Bonelli, a sua passagem pela Editora Epierre e depois desenhando o personagem de Stan Lee: "Homem-Aranha contra Octopus", pela Editora Arnoldo Mondadori.



R - Com o passar do tempo e adquirindo sempre mais experiência, os pedidos foram surgindo, até que vieram os personagens: "Il Piccolo Ranger" (O Pequeno Ranger) e "L'Uomo Ragno" (O Homem Aranha), o qual ilustrei com muito prazer, pois já nos anos 70 desenhar para a "Sergio Bonelli Editora" era o objetivo máximo para qualquer desenhista italiano, imagine então um brasileiro!



























Quanto ao "Homem Aranha" (Mondadori) desenhei um material escrito por um dos maiores historiadores de quadrinhos da Itália: o Franco Fossati - o que para mim, foi uma honra. 
Esse álbum foi desenhado em Gênova, com a aprovação do próprio Stan Lee, e foi impresso na Espanha.













Caro Luiz, por incrível que pareça, sou até hoje mais conhecido na Europa do que aqui no Brasil - são os mistérios que o fantástico "Mundo dos Quadrinhos" nos reserva.
Apesar de ser brasileiro e publicado ainda hoje por lá, e com artistas nacionais, muitos leitores ainda acham que sou italiano e não brasileiro!



4) Ao voltar para o Brasil, foi professor de desenho artístico ajudando a formar muitos jovens com seu enorme talento. Em 1983 se transformou num roteirista espetacular. Por favor, fale dos projetos que realizou: "Gringo" com Aloisio de Castro, a sua parceria com o grande Rodolfo Zalla e: "Cangaceiros, Homens de Couro", com Eugenio Collonese.




R - É verdade. Retornando ao Brasil em 1980, me tornei sómente argumentista-roteirista de quadrinhos, pois a escrita começou a me fascinar mais do que os desenhos, pois podia entrar nas mentes dos personagens, da geografia e da história de cada um deles.



"Gringo" nasceu da minha vontade de encontrar um desenhista para o personagem - e como já conhecia o editor-jornalista e o amigo Wagner Augusto - êle me apresentou o Aloísio de Castro, que achou interessante o roteiro e topou desenhar o álbum.
Foi feito também para o personagem uma animação, produzida pelo meu primo e grande animador brasileiro, Clóvis Vieira.














Assim nasceu o "Gringo" em quadrinhos, publicado num só volume. 
Eu e o Aloísio fomos apresentados para o grande (Rodolfo) Zalla, através sempre do Wagner Augusto e acabamos publicando uma HQ em uma de suas revistas, a "Calafrio".
E Wagner acabou me apresentando para o leitor brasileiro, publicando nessa revista as nossas biografias.






O Wagner me apresentou depois o (Eugenio) Colonnese, o contratei e aí publiquei o álbum: "Cangaceiros - Homens de Couro 01", pela Editora CLUQ (Clube dos Quadrinhos) - que na época era do próprio Wagner Augusto, e que já está em produção: "Cangaceiros - Homens de Couro 02" da série, desenhado por Anilton Freires. 




5) Mestre Wilson Vieira, agradecendo sua participação nesta pequena homenagem a um grande brasileiro - e se me permitir, gostaria de propôr um "Pedido-Desafio". 



Normalmente, ao final de uma "Chutientrevista" no meu blog, o artista nos envia um desenho autografado e se despede com uma mensagem aos seus fãs. 
Ao invés disso, eu gostaria de pedir que nos enviasse um texto inédito, (Uma pequena história) onde imaginaríamos que acontecesse um encontro totalmente improvável entre os personagens "Tex" e o "Zorro" de Walt Disney?
Definitivamente, seria realmente algo muito diferente do que já tenha feito, mas por favor fique à vontade também para declinar desse meu "pequeno desafio".
Mas nos deixe sua mensagem, que será importantíssima para mim, e para milhares de fãs do mundo todo!

P.S: Se porventura puder nos presentear com seu texto inédito do "Encontro Tex-Zorro by Wilson Vieira", pode demorar o tempo que desejar, ok?

Um grande abraço, parabéns pela sua carreira e muito obrigado pela honra de poder entrevistá-lo! 








R - Luiz, quanto ao seu desafio, infelizmente não possuo o tempo disponível para apresentar algo digno aos seus assíduos leitores e peço humildes desculpas, mas ao invés disso eu mando algo sobre o meu personagem "GRINGO", que futuramente será publicado no Brasil, não mais como quadrinhos e sim como uma serie de literatura Western, em 16 livros, dos quais levei mais de 10 anos para terminar.
E assim não fugirei do seu "desafio" em deixar algo para seus leitores, aos quais agradeço, e principalmente a você meu amigo, por sua gentil sugestão de um bom "bate-papo", e participar do seu tão aguardado, e lido espaço:


"- Uscendo dalle ceneri di una guerra civile, un mestizo porta con sè l' impronta del suo passato di sangue. 
La morte lo ha rifiutato, ma può raggiungerlo in qualsiasi momento. 
E questo significa scontrarsi con la crudeltà, l' odio, la vendetta e i fantasmi della mente. 
Ma non cerca rivincite né redenzione. 
Acconpagna GRINGO un cavaliere solitario, adesso, finchè è ancora vivo. 
I tradizionali idealizzati eroi del West sono pronti a battersi con i nemici nel rispetto delle regole di un gioco leale. 
GRINGO no. 
Non è quel tipo di eroe idealizzato: nel modo più assoluto."








"- Saído das cinzas de uma guerra civil, um mestiço leva consigo as marcas de um passado sangrento. 
A morte o rejeitou, mas ainda pode levá-lo a qualquer momento. 
E isso significa enfrentar a crueldade, o ódio, a vingança e os fantasmas da mente. 
Porém, não procura vingança ou redenção. 
Acompanhe "GRINGO" um cavaleiro solitário, enquanto êle está vivo. 
Os tradicionais heróis do Velho Oeste estão sempre prontos a enfrentarem seus inimigos, respeitando as regras de um jogo leal. 
"GRINGO" não! 
Ele não é aquele tipo de herói idealizado...absolutamente."


"- Out of the ashes of a civil war a man carries with him the marks of a bloody past. 
Death rejected him, but it can still take him along, at any time. 
Son of a mexican and a swedish, a peasant comes back from the hideous American Civil War after four years. 
Willing to forget his past and not believing in the future, he becomes a lonely mestizo, a wandering horseman - his only goal is to survive the challenges of the present. 
GRINGO is the very image of the Old West post-war man. 
Without counting on superpowers he tries to overcome violence, hatred and vengeance. 
GRINGO, during his adventures, recollects the terrible battles in which he fought during the conflict that split the Country and killed thousands of men like him. 
Follow GRINGO while he is still alive."














PS - Caro Luiz, por favor "passe um pente fino" no que escrevi, pois como sabe estou sempre "com um pé" aqui no Brasil e outro na Itália, em termos de gramática.
Grande abração e muito obrigado de coração, por ter me colocado entre tantos outros gigantes da Nona Arte.
Se necessitar de algo mais é só me dizer, ok?
Me diga quando irá postar, para eu divulgar também!



WILSON VIEIRA

Um comentário:

  1. Mais uma excelente entrevista, com um verdadeiro artista.
    Muito obrigado por sempre trazer estas novidades!

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