Edição de abril de 1966 com histórias nunca republicadas: "Um Negócio de Arrepiar" de Fred Abranz - "A Corrida dos Vivos" de Al Hubbard - "A Bela...Acordada" e "Silêncio, Por Favor" de Tony Strobl e "O Que Vale é a Esperteza" de Jim Fletcher.
Scan: Esquiloscans / Tratamento: Rod Gibi |
Luiz Dias:
ResponderExcluirEstou revendo meus scans de faroeste que incluem Tex, Ken Parker, Zagor e muitos outros, que totalizam mais de 2.100 exemplares, e cheguei à conclusão de que a transição do universo Disney para os outros universos mais adultos era brutal para uma criança acostumada com a acostumas às histórias em quadrinhos cor-de-rosa.
Também já li vários bolsilivros de espionagem da série ZZ7 e faroeste dos anos 70 e realmente, seria impossível, nós fãs dos quadrinhos Disney, aderirmos à literatura considerada mais adulta da época, visto a violência institucionalizada legalmente que ela pregava.
Acredito que naquela época poucos de nós estávamos preparados para uma literatura menos cor-de-rosa e menos cinza como forma de entretenimento mas parece-me que hoje, após exaurir minhas fantasias acerca do universo Disney estou me inclinando mais para os faroestes e espionagem daquela época.
Já os seriados, filmes e quadrinhos de hoje prefiro mais os policiais.
A apatia que as revistas Disney produzem em mim hoje deve-se provavelmente ao fato de eu durante a vida ter exaurido e vivido as fantasias que elas me proporcionaram.
É claro que ainda alimento a pretensão de terminar minha coleção de scans Disney até onde puder e até onde vocês continuarem com o trabalho abnegado de vocês, mas sou obrigado a reconhecer que de certa forma eu estou começando a crescer interiormente, ou seja, optar por leituras mais adultas e menos infantis.
Até há alguns anos atrás eu sentia em meu intimo que havia algo que eu tinha deixado passar em branco e que não tinha vivido pois parecia-me que entre a pessoa que sou hoje e a pessoa que fui no passado havia uma grande lacuna sem preencher.
Essa lacuna sem preencher foi justamente a falta de uma migração para uma literatura de entretenimento mais adulta, ou seja, rompi por muitos anos com a leitura dos quadrinhos que me preenchiam até então e não coloquei um equivalente adulto no lugar, ou seja, a leitura de revistas e bolsilivros de faroeste, espionagem ou policiais.
He, he. Felizmente, fui retomando meus hábitos infantis de leitura de quadrinhos e, aos poucos, fui me enfastiando deles, apesar de sentir que não mais conseguiria largá-los, mesmo enfastiado deles.
Paralelamente à montagem de meu acervo Disney fui também montando meu acervo de faroeste, espionagem, policiais, Tarzan, etc. e agora percebo que migrarei para essa forma de literatura não mais de maneira forçada e sim, natural e expontânea como consequência de meu crescimento nessa modalidade de entretenimento.
Essas são minhas atuais impressões sobre o que os quadrinhos contribuiram para a minha formação subjetiva na vida.
Espero que todos acabem se encontrando de novo e descubram, assim como eu, o que realmente causou essa sensação de "quero mais, só não sei o que" na gente.
Luiz Dias:
ResponderExcluirAcho que falei demais e compliquei minha postagem.
O que eu quis dizer é que sempre quis restabelecer uma ligação entre meu EU presente (infeliz) com o EU passado (feliz).
Foi difícil a redescoberta desse EU passado visto que ~eu não sabia como encetar essa busca.
A resposta veio-me depois dos 40 anos (mês que vem já faço 49 anos) quando eu passei a me interessar mais pelo meu passado do que pelo meu próprio presente.
Retomei as atividades que me faziam feliz na infância, sem entender muito bem por que estava fazendo aquilo.
À medida que eu ía enjoando daquelas coisas infantis que eu ía retomando eu sentia algo dentro de mim como se fosse um amadurecimento ou um crescimento interior, dando-me grande satisfação a cada sucesso.
É claro que junto com essas pulsões infantis, paralelamente vinham as pulsões adolescentes mas estas resolvi apelando para o sexo profissional que fez-me sentir o bam-bam-bam da mulherada (e que mulheres, he, he...).
Satisfeita a adolescência ainda ficava a resolver a parte infantil e foi nos gibis que encontrei as maiores respostas para minhas dúvidas e dificuldades.
Não entrarei em detalhes sobre as coisas que me foram vindo à mente e à consciência mas posso garantir que eu preferiria mil vezes estar brincando na rua ou jogando bola do que lendo um gibi.
O que me fez tomar o gibi como um entretenimento foi justamente a falta de liberdade que eu vivia em minha família.
Oras, tendo o gibi como praticamente única fonte de satisfação de minhas necessidades infantis é claro que o mesmo me faria uma falta danada na vida adulta sem eu me dar conta disso, pois as histórias já não faziam mais tanto sentido e nem me encantavam mais como na infância.
Até mesmo os amigos que eu tinha eram os que liam gibis e, no fundo, nunca gostei desses amigos, sempre desejando ser amigo dos outros que não me queriam em suas patotas.
Dessa forma se deu a minha formação social na infância, o que futuramente, já adulto, me causou muitos dissabores e eu não entendia por que eu não gostava das pessoas que se diziam minhas amigas e de fato até eram mas eu, no fundo sentia desprezo por elas.
Já as pessoas que me desprezavam, estas sim, eu queria-lhes a amizade mas não a conseguia.
Por tudo isso, minha relação com os gibis foi um caso de amor e ódio: ao mesmo tempo que eu os odiava porque queria fazer outra coisa, eu os amava porque eram minha única diversão e ainda assim, proibida pelos meus familiares que eram crentes.
Esses foram os problemas que encontrei por ser o filho homem caçula na família: os mais velhos já tinham brincado e se divertido quando tinham a minha idade presente. Daí quando já estavam com uma idade em que não podiam mais brincar, proibiam-me de brincar porque achavam isso errado e se esqueciam de que antes, quando tinham a minha idade presente, eles brincaram e se divertiram a valer.
Hoje, na verdade, não sei mais se continuarei a ler gibis mas creio que se eu continuar a lê-los, com certeza, passarei a ler gibis considerados na época como de adultos.
Esses eram os mistérios que me assaltaram nesses últimos 9 anos e, felizmente, consegui racionalizá-los adequadamente.
O que sei é que se não houver outra coisa para fazer continuarei a ler meus scans e me divertir com eles, mas se eu enjoar de vez e achar outra coisa mais compensadora do que gibis para me entreter, podem ter certeza de que seguirei em frente tornando-me mais um ex-fã de revistas em quadrinhos sem nenhum arrependimento e sem nem sequer olhar mais para trás.
Um grande abraço para você e todos aqueles que contribuiram com seu esforço e abnegação no trabalho que desenvolvem, para eu conseguir reviver meu passado e compreendê-lo em suas nuances sutis que me escapavam completamente à percepção racional.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirDesculpem, depois que escrevi o comentário, percebi que ficaria fora de contexto.
ExcluirNãoNada:
ResponderExcluirNa verdade, essas reflexões que postei acima foram, de certa maneira, despertadas pela leitura do livro Nova Patópolis.
Parece-me que minhas previsões a respeito desse livro e da leitura de alguns trechos que foram publicados antes de seu lançamento no blog A Gibiteca, se confirmaram ao menos no que se refere a mim.
Desde que li o primeiro trecho desse livro publicado senti como se algo dentro de mim tivesse se unido ou se encontrado e isso, pelo que eu pude compreender racionalmente, foi a reunião de meu eu infantil com meu eu adulto.
Talvez muita gente não tenha sentido isso mas de fato esse livro era, ao menos para mim, o que faltava para haver essa unificação de interesses tão conflitantes (interesses infantis x interesses adultos).
Passei toda a minha vida na base do vai ou racha, ou seja, se estava trabalhando queria estar vagabundeando e se estava vagabundeando, sentia-me culpado e queria estar trabalhando.
Esse conflito entre meu eu infantil e meu eu adulto foi resultante do fato de minha família ter sido muito repressiva em minha infância, o que me tornou uma criança muito frustrada com minha vida.
Depois de adulto esforcei-me para agir como adulto e construir para mim uma vida profissional rentável na área de informática e me dei bem nisso, mas aquelas frustrações infantis que eu carregava dentro de mim jamais se resolveram, pelo menos até hoje.
Parece-me que a leitura desse livro mostrou à esse meu lado infantil que a minha vida adulta foi uma continuação e realização satisfatórias de minhas fantasias infantis, ou seja, minha caça ao tesouro foi o esforço que dispendi na construção de uma carreira profissional, minhas aventuras contra inimigos foi a luta que encetei contra mim mesmo a fim de reprimir minhas tendências à vagabundagem, a minha Patópolis foi a família que eu construí depois do casamento e assim por diante.
Parece-me que esses fragmentos soltos em minha psique foram se resolvendo à medida que eu via os personagens Disney como pessoas comuns e não mais como seres fantasiosos.
Acreditem ou não, este livro tem um efeito terapêutico excelente, ao menos sobre aquelas pessoas que tem consciência como eu de que suas infâncias foram uma droga e não aquele mar de rosas que tentam convencer aos outros e a sim mesmo de que foi.
Ao final de tudo, o que fizemos depois de adultos tem tudo a ver com aquilo que desejávamos fazer na infância inspirados em nossas fantasias.
O que torna-nos difícil tal compreensão é o fato de as nossas fantasias infantis exigirem de nós uma realização de forma bastante próxima do original, ou seja, uma caça ao tesouro como a do Tio Patinhas tem que ser como a vivida pelo Tio Patinhas e seus sobrinhos e não na forma de uma carreira profissional na qual apostamos todas as nossas fichas para vencermos nossos piores inimigos: nossos demônios interiores.
Oras, essa capacidade que temos de transformar uma caça ao tesouro no desenvolvimento de uma carreira profissional chama-se sublimação.
O fato de minha capacidade de sublimação ser muito baixo, devido a eu não ter brincado o suficiente na infância, forçou-me a reprimir ou recalcar minhas fantasias e necessidades infantis que ainda tinham muita força sobre mim depois de adulto, para me dedicar única e exclusivamente à minha profissão, substituindo toda leitura de entretenimento por leitura de livros técnicos que tinham mais a ver com meu caminho escolhido.
Esse livro conseguiu me mostrar isso, ou seja, que minhas realizações na vida não ficam a dever em nada para as realizações do Tio Patinhas e outros personagens.
Sempre tive a ,ais completa liberdade desde pequeno, desde o dia em que uma revista Disney comprada por minha mãe foi parar na minha cabeceira da cama quando moleque e dormia a sono solto - isso em 1966, com 4 anos e muito levado, ah que saudades! Minha dedicada mãezinha sempre incentivou a leitura mesmo quando eu era ainda precoce pra ler tanto e saber das coisas. Nunca tive proibição ou neurose quanto a isso tudo. Mas a minha vida juvenil se resumia a saber mais coisas e ler bastante, de tudo que pudesse deitar os olhos famintos por palavrinhas. Desde criança me incentivaram a liberdade, o prazer da leitura, a vida de garoto levado, alienado talvez por gibis só de Disenyh oyu livros de contos de fadas - coisa que adoro até hoje e nunca fiquei doidivanas recalcado por isso...e, afinal de contas, vivíamos no Brazyl dos anos 60 ( alienante ou meio retrógrado como sociedade de então, voltado para um americanismo em revistas adultas, conversinhas sobre a ditadura a meio tom e conversas deles em que eu sequer poderia entender ainda. Eu era bobinho, não via as dificuldades dos adultos chatos. Meu mundo era de criança livre, solta no imaginário e grande leitor mirim! Jornais nem tanto, entretanto eu lia de tudo que era gibi e congêneres- daqueles guardados no sótão de meu pai desde os anos 40 quando papai era rapazote até as 'trocentas' revistinhas da Abril ( Disney e outros ) da minha coleção. Sempre fui antenado com essas maraqvilhas editadas. O mundo era outro e ainda fico mergulhado nisso e nunca larguei o "vício" dessas leituras ditas escapistas! Hoje tenho responsabilidades, não casei, trabalho, estudo por fora literaturas complicadas e jamais caí na aversão pelos quadrinhos. Continuo molequinho com essa vontade de esperar a minha mãe ( hoje falecida faz 3 anos... ) trazer gibi na cama e me obrigar a ler cada quadrinho, cada página ou cada aventura que sempre me deixavam em maravilhas! Pena que a família tenha se desagregado com o tempo, porém ainda mantenho, no auge de meus 54 anos ( e pra sempre, eu acho que vai... ) essa alegria doida por HQs, leituras e do viver a vida. Graças ao "deuses" da Disney sou o que sou, mas jamais estando alienado ou largado, fora de meu tempo se assim posso dizer. Contudo, com o tempo, meu mundo não foi só de Disney mas foi além e a leitura adulta de histórias que ainda tambem me fascinaram desde 75 ( outro ano meritório em minha vida, ainda pré-adolescente ) pois havia aprendido a ter olhos voltados a um universo de HQs que ainda me tornaram privilegiado como leitor. A minha coleção é fraca de revistas de todo tipo, mas tenho ainda 5 mil delas à disposição pra lembrar do quanto penei por ser leitor e homem, e bem feliz de continuar criança na alma, no respirar e na vida que me subjuga às vezes..brasileiro claro e com os pés no chão! Viva as HQs e aos livros de minha predileção, graças a eles sou uma pessoa muito bem informada, qualificada, honesta, e que ainda permanece NERD desde os 15 anos - jamais abandonando os quadrinhos. Espero que compreendam que minha vida foi assim, querida e consentida em ser feliz sempre, e que jamais abandono paixões antigas e vivo na melancolia sem necessidade...pena que outros tenham sofrido e aprendido de outras formas. Liberdade para um leitor contumaz é tudo pra ele e ter isso desde menino é o melhor tesouro que a minha mãe poderia ter me deixado como herança bonita. Espero que ainda entendam que Disney nem sempre foi tudo na minha vidam escolar ou fora dela. Eu ainda amo, adoro, idolatro quadrinhos - com uma visão de mundo até superior ao que tinha desde os 15 anos incompletos. entre 1966 a 1975 compreendi o mundo de certa forma, e a vida que prosseguia deu chances de ser o que sou hoje. Não duvido que outro tenha o mesmo destino mais feliz e correto que o meu como admirador, agora consciente e muito adulto, da Disney, apesar da perda da mãe e dos enfartes que tive...e um viva aos italianos!!! Ainda vale a pena deixar um testemunho excelente de um passado glorificado - não muito - em meus prazeres de leitor de agora!
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