11.4.12

"CHUTINTREVISTA" COM PRIMAGGIO MANTOVI

Este homem é mais um gênio do desenho que a nova geração talvez não conheça. Ele é um desenhista extremamente técnico e talentoso - além de ser um roteirista para histórias suas e de seus colegas com inventividade e competência. Nasceu na Itália em 1945 - mas é mais brasileiro que muitos "Filhos dessa Mãe Gentil"!
É empreendedor de suas idéias, transformando-as em projetos de sucesso. Será homenageado pelo "Troféu HQ Mix" - que neste ano de 2012 estará representado pelo seu personagem - "Palhaço Sacarrolha".
Formou profissionais de "HQS Disney" que são reconhecidos hoje pela "Walt Disney Company" como "Jovens Mestres" respeitados pelos velhos artistas. Sua vida e trabalhos incriveis - em detalhes - você pode conhecer clicando acima à direita, no gibi do"Rocky Lane" - seu primeiro trabalho no Brasil.
Tenho neste blog - a honra de poder conversar com Primaggio Mantovi.
1)  Quando começou nos anos 60 -  o Sr. fazia, além das capas de várias publicações da  RGE -  as estórias do Rocky Lane  e  depois passou a roteirizar e desenhar o Recruta Zero.  Como foi passar da aventura para o humor nos quadrinhos ?

R – Quer saber, Luiz? Pensei que seria mais complicado! No fim das contas, escrever e desenhar HQs humorísticas foi um desafio estimulante... E eu sempre gostei de enfrentar situações assim (Sem contar que eu era fã do Recruta Zero, antes mesmo de trabalhar com ele).
   2)   Em 1972, como  nasceu seu personagem  -  o palhaço “Sacarrolha”? É inspirado no “Arrelia”  ou no  Palhaço “Torresmo”?


 R – Não. Foi inspirado na minha admiração pelo “clima” - alegre, descontraído e sem dublês, do espetáculo circense. Palhaço, porque, além de símbolo do circo é uma figura identificável nos quatro cantos do planeta... Ou seja, de fácil exportação. No meu modo de entender, criar um personagem regional significa limitá-lo já no seu nascimento (Em parte eu gostava do Mort Walker/Recruta Zero também por isso: em todos os países existe serviço militar, certo?)



3)   Em 1973 entra para Editora Abril, coordenando o Centro de Criação- “Escolinha Disney” - formando novos profissionais.  O Sr. poderia  citar os nomes de alguns desenhistas?

R – Citando apenas os candidatos à desenhista de maior destaque: Euclides Miyaura, Eli León, Roberto Fukue, Ernesto Miyaura, Seung Joo Kang.  
 4)   Na revista “CRÁS”: os personagens  “Cafuné” e o “Acácio” foram  inspirados em pessoas  conhecidas suas?

R – Não. Essa dupla nasceu, ‘às pressas’, pra completar o miolo da revista Crás nº 01. Explicando: em 1973, Claudio de Souza - Diretor do Grupo de Revistas Infantis, da Editora Abril - decidiu lançar uma revista produzida inteiramente por artistas brasileiros, mas determinou que o ‘pessoal da casa’ não participaria do projeto. Na prática, Crás! seria feita somente por artistas ‘sem vínculo empregatício’ com a Abril. Direto à questão: em função de ‘certos’ artistas... Digamos “menos profissionais” (Leia-se, não cumpriram o prazo combinado) Claudio se viu obrigado a ‘pedir socorro’ aos contratados, caso contrário o lançamento da revista não aconteceria na data prevista. Daí, um punhado de artistas da Infantis (incluindo eu) ‘apagou o incêndio’. Foi assim que nasceu Cafuné & Acácio. 

5)   E o “Veterinário – Dr. Zôo” ... que  começou nos  jornais e depois em 1986 -  virou uma revista: “Diversões do Sacarrolha” e conquistou  a Holanda com  "Zooneland”? Foi inspirado em quem?
R – Criei o Veterinário (posteriormente, Dr. Zôo) em meados dos anos 1970, para ‘uso exclusivo em tiras de jornal’. E foi o que aconteceu em 1978, graças ao "Projeto Tiras", idealizado por Waldir Igayara de Souza (Diretor Editorial da Editora Abril). O Projeto não foi muito longe, mas o bastante para eu escrever e desenhar 312 tiras (quantidade necessária para suprir um ano de publicação, num jornal diário). O personagem chegou à Holanda por meio de um agente de lá, interessado em negociar HQs com os autores brasileiros. Em seguida, "Dr. Zôo" foi publicado em Cuba e, em 1986, publiquei algumas tiras dele na revista "Diversões do Sacarrolha". Respondendo a sua última pergunta: ninguém me inspirou na criação do Dr. Zôo. A minha escolha foi apoiada em duas razões: 1 - um tema perfeito pra tiras. 2 – Veterinária é uma profissão universal e os bichos ‘falam’ a mesma língua em todos os países. 


6)   O Sr. trabalhou com Rodolfo Zalla - como foi sua convivência com este grande artista?

R – Pacífica, produtiva e enriquecedora. Conheci o Zalla na Abril, em 1973, e logo de cara trabalhamos juntos nas HQs do Zorro (da Disney): eu fazia o roteiro e ele, os desenhos. Em 1983, repetimos a parceria em Diversões do Sacarrolha: eu produzia o material e Zalla publicava pela D-Arte, a editora dele. Hoje, não trabalhamos em parceria, mas o nosso contato continua firme e forte. 
 7)   Como foi trabalhar na Walt Disney Company Italy e desenhar o Donald e o Tio Patinhas? O sr. acha que prejudica essa "hegemonia globalizada" dos quadrinhos italianos por aqui e nos EUA?

R – Antes de responder, quero deixar claro que as HQs publicadas no Topolino (nº 2244 e 2255), não foram desenhadas por mim. São da época do "Primaggio Grupo de Arte"(veja os créditos): eu fiz o contato com a Walt Disney Company Italy, o editor enviou os roteiros e Luis Podavin e Aparecido Norberto desenharam as histórias. Hegemonia globalizada ou não, o importante é que os desenhistas brasileiros estão trabalhando para outros países, como nunca!
8)   Depois de cuidar do Depto. de Quadrinhos que formou  tantos profissionais  da Abril e  de ter coordenado até um setor para produzir Disney na Dinamarca até hoje... como foi pra o Sr. ver tudo ser desfeito em  1997 - por causa da crise?

R – Sim, provocada pela falta de interesse, pelas HQs - das novas gerações (somada a alguns ‘probleminhas’ de bastidores). E não é difícil de entender: a garotada de hoje recebe diariamente milhares de ofertas muito mais estimulantes! Essas crianças vem ao mundo ligadas no 220... Nem amarradas vão ficar sentadas lendo histórias em quadrinhos!  Estamos na era de “Velozes e Furiosos”, meu caro! 


9)   A morte  de Victor  Civita  - apressou esta  “Falência  dos quadrinhos Disney no Brasil”?

R – “Morte”, “Falência...” Tô ficando deprimido, Luiz! Ah, ah! Independentemente do falecimento do ‘seu’ Victor (como gostava de ser chamado) as revistas em quadrinhos da Disney (não só no Brasil) já não são produtos de grandes tiragens/vendas, mas daí à extinção... Quer uma prova? Direto do Google: 
 No dia 20 de março, durante a Feira Internacional do Livro de Bolonha, a Editora Abril foi agraciada com o prêmio de Melhor Performance de Mercado em revistas concedido pela Walt Disney Company em reconhecimento ao trabalho realizado pela Abril em 2010 e 2011”. 
 10)               Toda sua vida demonstra não só seu talento para desenhar e roteirizar -  como para coordenar e empreender trabalhos. Quais são os planos do seu “Primaggio Grupo de Arte” para os próximos anos?

R - "Primaggio Grupo de Arte" nasceu para manter ‘unidos’ os profissionais que, como eu, foram ‘convidados a se retirar’ da Abril, em 1997. Com o passar do tempo, cada um encontrou um novo caminho e o Grupo se dissolveu. O importante é que o nosso contato permanece vivo como nos bons tempos da Abril. Como profissional solo, continuo trabalhando com HQs, ora criando personagens, ora ministrando cursos de roteiro... Em 2000, passei a escrever sobre o mundo do cinema e, em meados deste ano, o meu quarto livro - "Walt Disney - A Arte de Realizar um Sonho" - deve chegar às livrarias. Paralelamente, estou produzindo uma edição comemorativa do 40º Aniversário do Sacarrolha e um livro sobre o estilo que desenvolvi escrevendo roteiros, durante meus 47 anos de carreira. 


11)   Sr  Primaggio Mantovi, o “Chutinosaco” agradece - por sua garra e talento  que nos diverte à  tantos  anos. Agora, como fiz com Luciano Gatto -  peço que deixe uma mensagem  para todos “gibinautas”...e se possível  nos envie um esboço  do “Sacarrolha” com dedicatória! 


R – Antes da mensagem quero dizer que achei a sua entrevista com Luciano Gatto, excelente! Parabéns, Luiz! Vamos lá: "Gibinauta" que se preza, está sempre por dentro do que acontece no mundo dos quadrinhos, frequenta festivais de HQs, vai à banca diariamente, compra, lê, comenta, opina, critica, defende, elogia... Ou seja, mantém em movimento o mundo das HQs. Como autor do gênero, agradeço de coração, a contribuição de todos os Gibinautas, Brasil afora. Porém, cuidado com críticas do tipo, “não li, não gostei”. Nunca critique ‘sem conhecimento de causa’, caso contrário não estará ajudando em nada o trabalho do autor (ou editor) e à qualidade da HQs, num todo.
UM PRESENTE DE UM GENIO


Obrigado e até! 
Abração, Primaggio.







8 comentários:

  1. Sensacional Luiz...um dos grandes desenhistas e roteiristas...excelente entrevista...e que a geração de hj venha a dar valor nessas peças únicas e raras, que marcaram e marcam uma geração até hj.Abçs!!

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    1. Obrigado, Chesco...esperamos que sempre eu possa ter cada vez mais genios como esse, para ser entrevistados!!

      Um grande abraço!

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  2. Muito boa realmente a entrevista com o ótimo desenhista ítalo-brasileiro Primaggio. Agora coloque esse esboço do sacarrolha aí do lado junto com os desenhos do Gatto que vai ficar incrível.

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    1. Andreyl, obrigado...pode deixar que além de emoldurar a "jóia original" que recebi do Primaggio Mantovi - colocarei para os amigos do "Chutinosaco" o nosso querido Sacarrolha trazendo muita alegria!

      Um abraço!!

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  3. Genial entrevista c/ Primaggio Mantovi, parabéns Luiz! É por essas e outras que o Chutinosaco se destaca tanto neste mundo dos blogs dos amantes da 9a Arte, hehe...

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    1. Obrigado Jorge...foi um grande prazer mesmo poder entrevistar esse ítalo brasileiro que foi o rsponsável por todos os sonhos que tivemos da Abril Disney por tantos anos!

      Um grande abraço!!

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  4. Boa noite amigo...........

    Mais uma vez este blog é motivo de orgulho para seus amigos e "afiliados". Estas entrevistas como sempre acrescentam conhecimento e história de um passado tão presente ainda em nossas vidas!!!

    O binômio Abril-Disney fez e sempre fará parte da HISTÓRIA de minha vida.....tenho orgulho em perceber que meu filho Patrick segue esta "herança genética" e também AMA DE CORAÇÃO os quadrinhos Disney, colecionando tudo que pode alcançar...

    Abraços....
    Você é "o cara" Luiz!

    Peter Hammill

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    1. Obrigado, meu amigo Peter...os sonhos estão ai para serem transformados em realidade - uma "corrida impossivel" que quase se pode vencer, se acreditarmos ser possivel!
      Eu acho que temos uma missão, todos nós - principalmente com nossos filhos...que nós possamos - como o pensamento inicial do empreendedor que foi Walt Disney - sonharmos, mas sempre acreditar que pode ser real.
      Uma forma de ajudar as novas gerações é continuarmos, não importam as adversidades - fazendo o que mais gostamos..."trocando gibis"!!!

      Um abraço!!

      Luiz Dias

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