12.9.21

CARLO CHENDI, O MÁGICO ESCRITOR DISNEY! ADEUS, AMIGO! OBRIGADO POR TUDO!

Assim como foi com o Mestre Luciano Gatto, eu tive a extrema honra de entrevistar para o "Chutinosaco", mais uma das lendas vivas dos artistas Disney: o genial escritor Carlo Chendi. Nascido em Ostellato, em 10 de julho, recentemente completou 82 anos e numa conversa sensacional, fui surpreendido por uma pessoa amável e muito simples, que nos revela os seus momentos especiais com os amigos, em fotos INÉDITAS na web, que ilustram maravilhosamente esta nossa viagem!




1) Carlo Chendi, os seus leitores brasileiros e eu queremos saber como e quando você começou a escrever histórias em quadrinhos, se especializando no gênero cômico?


R: A minha primeira história foi publicada em junho de 1952, eu tinha 17 anos e 11 meses.
Os meus mestres foram: Floyd Gottfredson com Mickey, Benito Jacovitti (O maior autor cômico italiano do século passado) e, determinantemente, Carl Barks. 
No cinema: Charlie Chaplin, os Irmãos Marx, Stan Laurel e Oliver Hardy
(O Gordo e o Magro).
De 1952 a 1954 eu fiz uma espécie de “treinamento prático” com vários personagens italianos (Tiramolla, Trottolino, etc.) e depois passei a escrever para a “Topolino”, desde sempre a mais prestigiosa revista em quadrinhos da Itália.




















2) Você fêz muitas histórias que abordavam, em tons de humor e sátira, clássicos da literatura e do cinema, como por exemplo: “ Doutor Paperus” (Goethe - Clássicos da Literatura Disney 28), “A Volta ao Mundo em 8 Dias” (Júlio Verne - Tio Patinhas 513), "Donald Contra Bob Finger" (Ian Fleming - Classicos da Literatura Disney 22). Como você trabalhava nessas adaptações?





R: As paródias de clássicos da literatura e dos filmes são uma ideia italiana que, depois de Floyd Gottfredson e Carl Barks, renovou os princípios narrativos das histórias e dos personagens Disney em quadrinhos.
A idéia era parodiar um clássico da literatura mas sem alterar o caráter e a psicologia do Pato Donald, Tio Patinhas, Mickey, Pateta, enfim, de todos os personagens. Por exemplo, na paródia do “Doutor Fausto” o Donald mantém o seu próprio caráter ao interpretar o “Doutor Paperus”. 
Em "Donald contra Bob Finger" se faz uma paródia de James Bond, mas Donald permanece sendo êle mesmo, não assumindo a personalidade de Bond.


3) Luciano Gatto é um grande amigo do meu blog e colabora conosco sempre que possível. Juntos, além de outras tantas aventuras, fizeram: “Donald e o Faraó” (Coleção Luciano Gatto 01) que é uma trama que fala de um antigo faraó, um alter ego do Tio Patinhas. Como nasceu a idéia dessa aventura tão insólita?





R: A civilização do Antigo Egito sempre me fascinou, eu sempre "devorei" as histórias de arqueólogos (Veja a descoberta da tumba de Tutancamon por parte de Howard Carter e Lord Carnarvon).
Aí eu escrevi uma história imaginando que um antigo faraó, com o mesmo apêgo que o Tio Patinhas têm pelo dinheiro (E a sua mesma aparência física), pudesse voltar a viver e quisesse mergulhar nas moedas do seu próprio depósito de dinheiro. 
Para diferenciar os dois na edição original italiana, o Tio Patinhas fala em prosa, enquanto o faraó se expressa em rima. 
E Luciano Gatto a desenhou de maneira bastante expressiva!


4) Você trabalhou com Luciano Bottaro em muitas histórias. Como foi o seu relacionamento com esse grande artista?





R: Eu e Luciano Bottaro éramos amigos desde a adolescência. E ambos com a mesma paixão pelos gibis e com o mesmo desejo de nos tornarmos autores de quadrinhos. Nós crescemos praticamente juntos, eu escrevia as histórias e ele as desenhava, por quase quarenta anos criando personagens (Pepito, Baldo, Whisky & Gogo, Pon Pon e muitos outros) e, ao mesmo tempo, também trabalhando com os disneyanos.
Bottaro era um grande e genial desenhista (Algumas vêzes êle também escrevia as histórias que desenhava), um artista autêntico. A nossa produção de quadrinhos foi de cerca de dois têrços com personagens Disney e de um têrço com personagens nossos.


5) Bottaro, Rebuffi e Chendi, dois desenhistas e um roteirista: juntos vocês fundaram o Estúdio Bierreci Comics . E, em 1972, criaram um evento internacional de quadrinhos (Mostra Internacional dos Cartunistas) que já chegou à sua 44ª edição. Como foi essa fase?




R: O Estúdio produzia histórias em quadrinhos para a Itália, a França, a Alemanha e a Suécia.
E também era uma espécie de escola frequentada por alguns jovens que ali aprenderam o ofício de fazer quadrinhos.
Da escola Bierreci saíram autores como: Giancarlo Berardi (Ken Parker e Júlia) e Ivo Milazzo (Ken Parker). 
Quanto à Mostra Internacional dos Cartunistas, o nosso objetivo principal era valorizar, em nível cultural, artístico e criativo, o nosso ofício de autores.
Não fomos os únicos, mas é claro que contribuímos, em nível internacional, a dar uma nova dignidade ao produto “gibi”. 







6) Quando Carl Barks estêve na Itália, durante a viagem europeia de 1994, você lhe dedicou uma mostra e um livro, com os depoimentos dos maiores autores italianos de quadrinhos sobre a arte dos quadrinhos.
Como era o seu relacionamento com êle? Chegaram a pensar em fazer uma história juntos?




R: O meu relacionamento com Carl Barks era de amizade, uma amizade cultivada por cêrca de vinte anos como amigos correspondentes e depois consolidada pessoalmente quando nos encontramos em Milão e na cidade de Rapallo. Eu o havia convidado para almoçar no Restaurante dos Quadrinhos, o “U Giancu”. Um dia inesquecível!
Mas...eu jamais ousaria lhe sugerir fazermos uma história juntos, êle era o meu mestre.


7) A sua primeira história com os personagens Disney foi: “Le Miniere di Re...Paperone” de 1954, e em 2013 a mais recente: “Pippo Scudiero della Tavola Redonta” (Inéditas no Brasil). O que mudou no mundo Disney ? Como você se relaciona com essa nova geração de autores? 





R: Os jovens autores estão em sintonia com os seus contemporâneos, com quem cresceram partilhando a mesma cultura (Pouca literatura, pouco cinema, muita televisão, muitos videogames, propaganda maciça, mesmos problemas políticos e sociais, etc) e são de uma geração muito diferente da minha.
Êles consideram as nossas histórias como grandes clássicos, sentem admiração por elas, mas acho justo que as histórias dêles representem a sociedade em que vivemos.
Como acontece com os jovens autores de cinema, televisão, literatura, etc. 





8) Carlo Chendi, como é a sua relação com o Brasil?

R: O Brasil é um país que eu amo de modo particular pelo lugar que ocupa na formação do meu imaginário.
E no Brasil moram pessoas que eu conheço e com quem tenho relações de amizade:
- Primaggio Mantovi, que eu conheci em Lucca.
- Júlio Schneider, advogado e um insuperável tradutor das histórias de Júlia" (Giancarlo Berardi) que eu conhecí em Rapallo.
- Marcelo Alencar, jornalista e tradutor das minhas histórias Disney no seu país (Marcelo comprou do espólio de Carl Barks, no Ebay, tôdas as cartas originais que eu havia escrito a Carl e o livro: “Un Mondo di Fumetti” que eu havia dado de presente a êle em 1971).




- Álvaro De Moya, que fazia parte do júri que me concedeu o Prêmio Yellow Kid em Roma, em 1996. 
- Maurício de Sousa (Que conheci em Rapallo). 
- E agora, tenho um novo amigo: Luiz Dias.









9) Agradeço pelas suas respostas e muito obrigado pelas milhares de histórias que você escreveu, que fizeram e ainda fazem sonhar os leitores brasileiros e aquêles tantos outros - dos 26 Países no mundo tôdo onde são publicadas as suas histórias, há mais de 40 anos (Agora, até na China!). Podia nos deixar uma mensagem?


R: Quando por dez anos, de 1989 a 1998, eu trabalhei na redação da The Walt Disney Company Itália, eu tive a oportunidade de conhecer o catálogo da Disney americana para os editores licenciados. 
Entre outras coisas, se dizia alí que as histórias em quadrinhos do Pato Donald, Mickey e dos demais personagens, tinham no mundo cêrca de oitocentos milhões de leitores. 
Como a quase totalidade da produção em quadrinhos dos personagens Disney era italiana… não é difícil concluir quantos leitores têm (Mais ou menos!) as minhas histórias. 
E os brasileiros ocupam uma parte especial no meu coração!




























CARLO CHENDI

6 comentários:

  1. Simplesmente uma história de vida fantástica!
    Parabéns ao blog pelas frequentes entrevistas com os grande nomes dos quadrinhos.
    Um material para a posteridade e um reconhecimento a esses mestres. Uma pena que a série Mestres Disney não vingou, pois certamente caberia um edição com Carlo Chendi.

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    Respostas
    1. Não seja por isso. Mestres do Brito está aí para acolher. Espero que aceitem a sugestão.

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  2. ESTAS ENTREVISTAS SÃO MUITO LEGAIS. COMO VOCÊ CONSEGUE LUIZ?
    (JOÃO E NÉIA)

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  3. Super legal o arquivo de fotos dessa entrevista...Don Rosa,Romano Scarpa,Donald Soffrit...alem dessa foto LENDÁRIA entre Cavazzano e Barks!
    Alias...é impressão minha ou o OK Quack só aparece em edições mais antigas da revista do tio,principalmente dos anos 80?

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  4. Pessoa admirável com uma história admirável. Venho me deliciando em conhecer também a obra de Floyd Gottfredson. A Fantagraphics vem dando esse presente ao mundo em volumes primorosamente encadernados de sagas imensas do Mickey que, pelo que se diz nos textos dos próprios volumes, encontram sempre grande dificuldade de serem reimpressas por isso mesmo. De "Race to Death Valley" (1930) até o fim - já está no 4º Box com dois volumes cada, o 8º volume contando já com o traço mais conhecido entre brasileiros de Gottfredson, de 1946, Mickey já de calças compridas e camisa e chapéu. Uma aventura e tanto - quem sabe a Abril não cria "coragem" e traz para nós semelhante tesouro?

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