17.1.19

O GRANDE LUIZ PODAVIN, EM TRAÇOS...E PROSA!

Um Feliz 2019 com a volta das "Chutientrevistas", e com um grande artista, mais um "Mestre Disney de Todos os Tempos" - e brasileiro - logo na estréia!
E nessa conversa divertida, ainda descobrimos a sua primeira capa Disney, que agora finalmente foi creditada no "C.O.A. Inducks"!
Um desenhista muito criativo e bem humorado que adora seu trabalho! Salve grande Mestre Luiz Podavin!
Que honra em poder entrevistá-lo, e saber um pouco da sua carreira!















1) Como, e quando você começou a desenhar, quais eram seus ídolos, e nos conte como entrou na Editora Abril? E sobre a época da produção nacional dos quadrinhos Disney, do qual você fez parte integrante até 2001?


R: A maioria dos desenhistas começam a rabiscar muito cedo, quando crianças ainda.
Aquela atração pelo papel e lápis que outros coleguinhas não tinham.
Sou do interior de São Paulo (Flórida Paulista) uma cidade pequena e onde havia pouca circulação de gibis.


Felizmente um irmão mais velho colecionava revistas de quadrinhos Disney, o que para mim e meus irmãos menores, era um pequeno paraiso!
Mais tarde quando comecei, copiando personagens dos quadrinhos eu me inclinei para os super heróis.
Nesse tempo tinha então entre 15 e 18 anos, a "febre" eram os heróis: "Fantasma", "Mandrake", "Tarzan", "Principe Valente", "Flash Gordon"...os de faroeste: "Cavaleiro Negro", "Rocky Lane", etc.
Fui desenvolvendo meu traço até os 20 anos, quando vim para Campinas com a família, onde consegui emprego numa gráfica, como datilógrafo.
Havia ali um setor dedicado a embalagens, onde felizmente pude aplicar os meus conhecimentos de desenho, profissionalmente.



Eu vim para a Editora Abril no final do ano de 1972, depois que um amigo da gráfica enviou a um conhecido dele que trabalhava lá, uns trabalhos meus.
Me convidaram para uma entrevista, e fui contratado!
Era uma época boa, e a Abril tinha muita necessidade de ampliar o grupo de desenhistas.
Época maravilhosa, onde "O Pato Donald" vendia "a rodo"! (500 a 600 mil por edição)
Iniciei como aprendiz no prédio da gráfica na marginal Tietê, onde tudo começou na redação Disney.
Não foi fácil, pois como disse, eu era do interior e o pessoal ali não perdoava! (Rsrsrs) Apesar de ter trabalhado em Campinas por um ano, eu ainda tinha o "jeitão caipira"!
Houve várias mudanças de endereço da redação, para a Rua do Curtume na Lapa, para a Avenida Faria Lima, e Rua Bela Cintra.



Ali deixei a Editora como funcionário e continuei como colaborador produzindo histórias.
Voltando à gráfica na marginal, de aprendiz segui como assistente, depois desenhista produzindo as capas, e logo um chefe de arte.
Ficava a meu cargo revisar os desenhos e arte final das histórias do pessoal.
Então, era comum me ver em meio a pilhas de páginas, fazendo uma caprichada revisão. Foi nessa época que ajudei a desenvolver alguns personagens, como: "Biquinho", "Zé Galo", e outros!
Foi quando deixei o cargo e comecei a produzir histórias, que era o que sempre quis fazer, isto é, desenhar realmente!
Passei a trabalhar em casa como freelancer e produzi umas duzentas histórias, mais ou menos, uma "linha de produção" como colaborador, já fora da Abril.










Desenhava então a "Família Pato" (Donald, Tio Patinhas, Peninha) o Mickey, Pateta e qualquer outro que fosse necessário, inclusive revistas
Não-Disney como: "Os Trapalhões", "Bolinha" e "Luluzinha" "Super Heróis", "Sergio Malandro", "Família Dinossauro", ufa! Rsrsrs)









Entre todos, o Zé Carioca era nossa maior produção, e também a minha.
Procurei fazê-lo do meu jeito dando um toque "a italiana", já que eu gostava muito do estilo de (Giovan Battista) Carpi e do (Giorgio) Cavazzano!
Tive um momento especial na rua Bela Cintra, quando por um tempo, integrei uma equipe a cargo do diretor Jorge Kato na produção dos Manuais Disney.
Ali aprendi a trabalhar com tintas tipo guache e ecoline, pasmem! Desenhava e coloria as ilustrações, o que me dava maior satisfação.









O Jorge Kato foi um dos primeiros desenhistas Disney no Brasil.
Um "chefe sisudo" que era só para impressionar, mas no fundo era um camarada, e grande profissional.
Sob a orientação dele ilustrei para os Manuais: "Peninha", "Pardal", "Maga e Mim", etc.




2) Como nasceu a idéia de criar os personagens da "Turma da Pata Lee"? E o "Boinifácio", o primo azarado da Clarabela?



R: A "Pata Lee" (Romano Scarpa) e o "Folião" (Aracuã - Você já Foi à Bahia) já existiam.
A Lee é uma patinha graciosa e pensamos em aproveitá-la melhor criando uma turminha de adolescentes, sendo ela a principal.



As idéias praticamente eram do nosso diretor Primaggio Mantovi e depois de uns pitacos daqui e dali do pessoal, lá ia eu para a prancheta rabiscar!


Criamos então um pelicano (Parceiro), uma corujinha (Netúnia), uma cegonha (Olimpia), um outro pelicano (Papudo), que deu origem a essa turma, e uma produção de muitas histórias.




O Boinifácio seguiu a mesma linha de desenvolvimento: o Primaggio disse: "Que tal um boi?" - não deu outra!



3) Como foi realizar tantos trabalhos para a Holanda e Dinamarca? E fale sobre o seu processo de criação para desenvolver a história, enviada pelos gringos?







R: Trabalhar para os gringos foi muito prazeroso em termos de realização e aperfeiçoamento importante no meu traço.
Senti o peso da responsabilidade, e assumi!




Através de um intermediário, recebia os roteiros com rafe ou só texto. Eram muito exigentes, então lançava mão de muita referência de bons desenhistas americanos como (Carl) Barks, Daniel Branca, Daan Jippes e outros.







Assim produzia uma aventura numa média de 20 dias.
A história desenhada era enviada para a "Egmont" pelo intermediário e eu recebia indicações, e algumas correções a serem feitas.
Pouca coisa - no mais, elogiavam meu trabalho!



4)  Em 2012 você volta a fazer capas para a Abril, e realiza uma história (Conversa de Planta) do Arthur Faria Jr. para os "70 Anos do Zé Carioca". Fale sobre esse projeto. No ano seguinte, já desenhava novas histórias para os gibis do papagaio. Agora nessa nova fase, a volta dos quadrinhos Disney, com a Editora Culturama existe a chance de você desenhar o personagem de novo?


R: Sim. Em 2012, (Por aí) o Paulo Maffia e o Fábio Figueiredo, com coordenação do Fernando Ventura, me convidam para produzir algumas capas, e também algumas histórias.



Essa (Conversa de Planta) do Arthur Faria Jr. foi a primeira nessa fase. Estava meio travado, pois já fazia alguns anos que não tocava em Disney, mas bastou alguns quadros, e já estava fluindo.



Foi um prazer voltar a desenhar Disney e fiz com muito boa vontade apoiando o esfôrço do Maffia, Fábio e Ventura de emplacar novamente a produção de Disney no Brasil.
Durou pouco mais de um ano, mas que pena!
Agora está nas mãos da Editora Culturama e dependendo de mim, claro, volto com tudo em cima dos meus 68 anos com muito pique!
Todos sabem que a produção no Brasil é muito cara, vamos ver o que o pessoal de lá vai resolver.




5) Eu fiz uma vetorização de sua primeira capa na Abril (Segundo o Inducks) para o "Zé Carioca 1215". Espero que goste. 






R) Será que é minha? Tá difícil de lembrar! A minha primeira capa foi feita no prédio da marginal do Tietê quando inicialmente a redação Disney era lá. 
Uma capa do "Superpateta" em que ele pescava usando uma âncora de navio como anzol, mais ou menos isso, não lembro em que revista. Estava começando ali na redação e o meu chefe de arte, o Izomar Camargo Guilherme me passou essa capa para desenhar.
Lembro que levei uns 20 dias!
Quase desisti, achando que não ia conseguir! (Rsrsrs). 
Quanto a essa aí pode ser a que fiz para a revista do Zé Carioca, ok!
Mas é bom verificar melhor.




6) Achei esta outra: "O Pato Donald 1112" - que infelizmente não tem crédito no Inducks - seria sua??? MISTÉRIO! (Rsrsrs) 
Me confirma, pois se for sua, a gente indexa posteriormente! 
ATENÇÃO: Já foi feita a justiça - o amigo Paulo Ricardo Abade Montenegro já colocou o nome do verdadeiro artista na referida capa no COA Inducks!


R) Isso, isso! Tá lá o ano, março de 1973.
Entrei na Abril no final de 1972, então bateu. (Rsrsrs)
Fazia tempo que não via essa capa! 
Teve "trocentas" correções, mais saiu. Minha "primeirona" mesmo! Agradeço a sua pesquisa!




7) Agora gostaria que deixasse uma mensagem sobre seus projetos futuros, e um recado para seus fãs, que tem muita saudade do seu trabalho incrível?








R: Hoje diversifiquei minha técnica a fim de atender o mercado e não ficar sem trabalho. Faço livros didáticos, livros infantis, livros religiosos, capas diversas, propagandas, material informativo e o que puder, nos mais diversos estilos.





Quanto a futuros projetos, não tenho nenhum, a não ser tempo livre para qualquer trabalho que me apareça na área.









Também gosto muito de diversificar meu traço com variados estilos, alguns desafios para imitar esse ou aquele estilo é muito bom para não ficar limitado.





Aos fãs que porventura eu os tenha, o recado só pode ser minha gratidão por apreciarem meu trabalho.
Muito importantes porque são diferenciados, são colecionadores, uma boa medida!
"Deus salve os fãs"!



LUIZ PODAVIN

6 comentários:

  1. Maravilha de entrevista Luiz! Parabéns pela iniciativa e meu maior apoio a grande Mestre Podavin. Tomara que logo logo tenhamos nossos Mestres de volta nos quadrinhos inéditos!

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    1. Salve grande Edilson! Em 2019 vou retomar as "Chutientrevistas" e muita gente boa estará aqui, trazendo muitas novidades sobre os quadrinhos Disney, e sua volta ao Brasil! Um abração!

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  2. Luiz Podavin é, na minha opinião, o melhor quadrinista brasileiro que desenhou (e desenharia) HQs Disney no nosso país! Sem contar as inúmeras capas, posteres, ilustrações, figurinhas e sei lá mais o que! Pra mim, foi uma honra trabalhar ao lado dele durante 24 anos; e tê-lo como amigo ainda hoje...

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  3. Que maravilha de entrevista! Tive a honra de trabalhar junto com o querido Luiz Podavin, assim que entrei pra Abril Jovem, para desenhar os Trapalhões, Gugu e Sergio Mallandro. Além de ser tornar o meu chefe de arte, Podavin me influenciaria muito no desenho, principalmente quando passei a desenhar o Zé Carioca e outros personagens da Disney. Grande abraço, mestre!

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  4. Grande Poda! O caldeirão produzido pelo Luiz Dias, colocando você como ingrediente principal foi matador. No bom sentido, é óbvio. Sempre curti os seus trabalhos Disney e tantos outros de outras fases e depois no estúdio Disney da Bela Cintra, sob a tutela dos grandes mestres Primaggio e Izomar. Posso dizer que sua mão santa foi inspiração para muitos de nós naquele período. Curti muito quando o Primaggio e você desenvolveram a figura do Parceiro, baseado em mim, quando solteiro. Se tivesse sido criada por outro ilustrador, blz, mas o fato de ser obra sua, triplicou a sua importância e lhe agradeço de coração. O Izomar e o Primaggio ficavam tranquilos quando avistavam sua figura ocupando o trono da chefia de arte, cargo de confiança que lhe cabia por mérito. Sabiam que a qualidade estaria preservada e a empresa só teria a ganhar com isso, fora os leitores, obviamente. Parabéns, e deixo aqui meu desejo de vê-lo firme e forte como bem merece. Não faltarão oportunidades, pode crer. Abraços grandes ao Luiz Dias e que continue sempre buscando essas grandes preciosidades. Abç José Roberto Gregório

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  5. Muito feliz em ver esta entrevista com Luiz Podavin. É um profissiona super talentoso e uma pessoa extraordinária. Sou sobrinho e com muito orgulho. Parabéns tio, sucesso!

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